Diversos estudos clínicos randomizados têm deixado claro a eficácia da estratégia alimentar low carb para o tratamento de obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, esteatose hepática (gordura no fígado) e síndrome metabólica. Mas a dieta pode ser empregada também por pessoas que não possuem essas doenças, sem qualquer risco de dano à sua saúde.
Para entender melhor os diversos perfis que podem adotar a prática alimentar, o médico, diretor-presidente da Associação Brasileira Low Carb (ABLC), José Carlos Souto, acredita por bem definir em primeiro lugar quais as consequências do consumo excessivo de carboidratos para o corpo humano. Souto explica que todo o carboidrato é digerido pelo organismo em glicose. Conforme o médico, a maior quantidade dessa substância no sangue ocasiona o incremento na produção do hormônio insulina, cujo papel, além de controlar a glicose, é estocar gordura. O excesso de peso, por sua vez, está relacionado ao aparecimento de doenças como o diabetes tipo 2.
Logo, de acordo com Souto, não à toa, a estratégia alimentar low carb, cuja orientação é reduzir o consumo de carboidratos, torna-se uma ótima opção para quem sofre de obesidade, diabetes tipo 2, esteatose hepática e síndrome metabólica. Os benefícios são evidentes. “No entanto, muitas pessoas que não sofrem de nenhuma dessas condições também adotam um estilo de vida low carb por conta de aspectos positivos como redução do apetite e manutenção do peso sem esforço”, pondera o médico.
Levando-se em conta que a low carb pode ser empregada por um perfil diverso de pessoas, vale destacar que a estratégia não se resume a uma diretriz única no que diz respeito à quantidade de carboidratos a serem ingeridos por cada indivíduo. “A low carb é, na verdade, um espectro, que vai desde a restrição mais severa até́ a restrição moderada”, explica Souto.
Conforme o diretor-presidente da ABLC, a dieta moderada caracteriza-se pelo consumo de até 45% de carboidratos diário. Por sua vez, a dieta mais restritiva, também chamada de Very Low Carb (VLC) ou cetogênica, define-se pelo consumo de menos de 10% de carboidratos ou de 20 gramas a 50 gramas do macronutriente por dia. Entre os dois extremos, existe a dieta Low Carb Healthy Fat (LCHF – ou low carb com gorduras saudáveis), que se distingue pela ingestão de menos de 26% ou de menos de 130 gramas de carboidratos diário.
“Esta definição oferece ao profissional de saúde ampla margem de manobra no que diz respeito à customização da abordagem para as necessidades individuais de cada paciente”, destaca Souto.
Assim, para aquele que deseja adotar a low carb apenas por uma opção de saúde e bem-estar, sem preocupação com a perda de peso, uma boa opção é a dieta moderada. “Nesse espectro da estratégia alimentar, as orientações básicas da low carb continuam as mesmas: optar por comida de verdade, evitando alimentos ultraprocessados, e excluir o açúcar e os farináceos. Raízes e frutas, aqui, podem ser consumidos sem restrição”, diz.
Se o objetivo do paciente for a perda de peso saudável e sustentável e até de maneira rápida, a melhor alternativa é a dieta LCHF. Nesse caso, além de evitar o açúcar e, farináceos e optar por ingerir comida de verdade, composta por muita salada, ovos, carnes de boi, peixe e ave, a recomendação é o foco em proteínas e gorduras saudáveis, com eliminação de tubérculos que contenham muito amido (principalmente as batatas e a mandioca) e de frutas doces do cardápio. As frutas com baixo teor de açúcar, como morango, framboesa e amora, abacate e coco, e seguem sendo uma opção.
Para quem tem obesidade, síndrome metabólica e diabética, a dieta cetogênica se mostra como a intervenção terapêutica mais útil e eficaz.
Segundo Souto, em um primeiro momento, uma dieta de baixíssimo carboidrato exerce seus efeitos benéficos sobre o metabolismo, reduzindo a insulina, a glicemia e os triglicerídeos. “Além disso, a retirada do açúcar e da farinha ajuda a eliminar espécies patogênicas e pró-inflamatórias do intestino, cuja presença contribui para a resistência à insulina e leptina – hormônio que desempenha importante papel na regulação da ingestão alimentar e no gasto calórico”, argumenta.
Contudo, se a cetogênica não for bem formulada, a dieta pode não ficar nutricionalmente completa. Recomenda-se acompanhamento por um nutricionista com experiência em low carb.