Peças da mostra contam momentos da história do centenário espaço cultural que foi reinaugurado há cerca de um ano - Foto - Alex Cavanha_PSA

Perto de completar 100 anos no atual endereço, o Cine Theatro de Variedades Carlos Gomes, em Santo André, carrega uma trajetória de luta para sobreviver à ação do tempo e para resguardar memórias das expressões artísticas que passaram pelo local, com visão, ainda, para o futuro. A exposição “Tempo Presente”, composta por peças que retratam, como flashes, essa jornada, foi prorrogada até o dia 14 de junho, no próprio Cine Theatro Carlos Gomes. O endereço é Rua Senador Fláquer, 110, no Centro.

A mostra tem como objetivo localizar o simbólico espaço cultural andreense no ambiente artístico, no contexto cinematográfico, teatral e cultural do tempo presente; bem como de situá-lo socialmente e territorialmente não só na cidade, mas também na região.

“O propósito da mostra não é abordar a história do Cine Theatro Carlos Gomes, nem ser didática. ‘Tempo Presente’ pretende ser uma atividade que marca um ano do reposicionamento do Cine Theatro como espaço de produção e promoção de arte, de reflexão, difusão de conhecimento e, agora, de experiências em um novo formato para o uso do edifício como ambiente de vivência, de interação com o público, com a sociedade e a comunidade em que está inserida, e desse modo, se relacionando com a cidade”, explica o curador da exposição, Reinaldo Botelho.

A exposição é composta por mais de 120 itens impressos referentes a vários momentos da história do Carlos Gomes, como periódicos, programas, documentos, jornais e revistas, fotos, negativos, cartazes e pôsteres, além de registros audiovisuais (filmes e vídeos) de acervos e depoimentos coletados do público, artistas e da comunidade, que de algum modo experimentaram eventos e a intensa vida cultural e social já promovida pelo Cine Theatro em outros tempos.

Além disso, “Tempo Presente” conta com duas peças sonoras (Memorial do Cine Theatro Carlos Gomes e Poema Sinfônico Industrial à Preservação do Patrimônio Cultural) e com o documentário “Cine Carlos Gomes: patrimônio e memória como fenômenos coletivos”.

“A exposição ‘Tempo Presente’ transcorre em camadas que se dilatam e recebem tratamento por meio de sobreposições de formatos. A palavra escrita e falada, sons e imagens se conectam sintática e graficamente, possibilitando leituras e colagens que se entrelaçam como numa tapeçaria”, concluiu Botelho.

Histórico – Antes de ocupar o imóvel localizado na Rua Senador Fláquer, o Cine Theatro de Variedade Carlos Gomes foi inaugurado em 21 de setembro de 1912, em um espaço que ficava na Rua Coronel Oliveira Lima, na esquina com a Rua Savino Degni. O espaço nasceu como uma casa de diversões públicas dedicada a bailes, carnavais, concertos, óperas, revistas musicais, teatro e filmes, e por isso foi considerado o primeiro Cine Theatro do ABC, dando início ao movimento teatral na região.

Em 1923 começou a ser construída uma nova edificação – obra realizada por Gino Luiz Boschetti e Arthur Boschetti – com pinturas murais artísticas nas paredes e boca de cena de autoria de Luiz Cereja. Acima da boca de cena, o pintor retratou um medalhão com o perfil do compositor Carlos Gomes, sendo esse um elemento marcante no prédio que permanece até os dias de hoje. O novo cinema foi reinaugurado em agosto de 1925, na Rua Senador Fláquer, esquina com a Rua Cesário Mota e fundos para a Rua Gertrudes de Lima onde está localizado atualmente.

Em 1987, o Cine Theatro foi fechado e ocupado por uma loja de tecidos, época em que sua fachada foi descaracterizada, e também por um estacionamento. Depois de muita pressão popular, o espaço já deteriorado foi desapropriado em 1991 e permaneceu fechado por muitos anos. Após novo projeto, passou por reforma de readequação e restauro e foi reaberto ao público em abril de 2022.