Valorizar a queixa dos familiares é fundamental durante o atendimento da criança.Foto Helber Aggio-PSA

 Ontem (22/07), Santo André iniciou a linha de cuidado para crianças com transtorno do espectro autista (TEA). A iniciativa conta com atividades coletivas realizadas por uma equipe multidisciplinar composta por psicólogas, assistente social, fonoaudióloga, enfermeira e arte educador, objetivando a interação social e o desenvolvimento das habilidades diárias das crianças com TEA.

A linha de cuidado foi implantada por meio de uma parceria entre as secretarias de Saúde, Educação e da Pessoa com Deficiência, oficializada por instrução normativa publicada em junho de 2022.

“O TEA ainda é um assunto desconhecido pelas políticas públicas de saúde, mas mesmo assim os técnicos da saúde de Santo André têm se reinventado e construído estratégias avançadas de cuidado para garantir assistência ao paciente munícipe da cidade”, pontua o Diretor Geral da Secretaria de Saúde, Victor Chiavegato.

As crianças que participaram da ação são alunos encaminhados da rede municipal de educação, cujo cuidado passa a ser compartilhado entre os serviços de saúde e de educação inclusiva. Os encontros têm duração de uma hora e serão quinzenais. 

Moradora da Vila América, Ana Paula Ciglio acompanhou o filho Ahmed Al Dhis, de 7 anos, e ficou surpresa com a evolução do filho já no primeiro encontro com a equipe multidisciplinar. “Eu me senti bem acolhida e esperava muito por esse direcionamento para saber o que fazer para a melhora dele. Ele se sentiu muito à vontade, é a primeira vez que eu vejo ele interagir, ele brincou e conversou com os profissionais e com as crianças. Espero que ele consiga ter uma vida normal, que possa ultrapassar algumas travas que ele tem e consiga interagir e se comunicar”, explica.

Após a reunião, a equipe se reuniu para debater sobre o diagnóstico desse primeiro encontro. “Hoje a atividade foi bem rica. Conseguimos montar uma equipe que tem representantes dos diferentes pontos de atenção da rede. Tinha profissionais do Nasf, do Caps e do Reabilita (Centro Especializado em Reabilitação). Isso faz com que haja uma corresponsabilização da rede para o cuidado das crianças com autismo e dos seus familiares. É um processo novo que a gente está vivendo agora, que exige um planejamento grande, mas que os frutos que estamos colhendo estão sendo ótimos porque as famílias estão encontrando um ponto de cuidado que elas podem recorrer na saúde para as diferentes questões do autismo”, explica o sanitarista e assessor técnico Rodrigo Meirelles.

“É a primeira vez que nos debruçamos sobre isso de uma forma tão estruturada e articulada. Como foi a primeira atividade, tivemos algumas faltas, então o maior desafio é garantir a aderência das famílias que foram convocadas nesse primeiro momento, mas entendemos que como é novo, ao longo do processo a gente vai fortalecendo esse contato com as famílias e garantindo a presença e a evolução do quadro das crianças”, completa.

Definição – O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.

Sinais de alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3 anos de idade. A prevalência é maior no sexo masculino.

Diagnóstico – O TEA é essencialmente clínico, feito a partir das observações da criança, entrevistas com os pais e aplicação de instrumentos específicos. Instrumentos de vigilância do desenvolvimento infantil são sensíveis para detecção de alterações sugestivas de TEA, devendo ser devidamente aplicados durante as consultas de puericultura na Atenção Primária à Saúde.

O relato da família acerca de alterações no desenvolvimento ou comportamento da criança tem correlação positiva com confirmação diagnóstica posterior, por isso, valorizar a queixa dos familiares é fundamental durante o atendimento da criança.