Depois do sucesso das Microestreias da Quarentena, série de microconcertos apresentados no mês de maio, o projeto Ossa em Casa, da Orquestra Sinfônica de Santo André, terá mais uma ação inédita: a Trilogia Trancafiada. A obra, em formato de videoarte, reúne um conjunto de três curtas-metragens que visam expressar artisticamente os sentimentos experimentados por todos em decorrência do isolamento social. O trabalho, realizado em parceria com a artista visual Luisa Almeida, estabeleceu os conceitos que nomeiam cada um dos capítulos: Ansiedade, Adaptação e Acolhimento.
O primeiro, sobre a Ansiedade, vai ao ar na próxima sexta-feira (14), às 19h. Os vídeos serão publicados em uma playlist especial da Sinfônica de Santo André, no canal do YouTube da Secretaria de Cultura: https://www.youtube.com/playlist?list=PLk73B9e63GO7Dx_3tkBGngZXZTkU4vOfF. Os outros curtas-metragens sobre os temas Adaptação e Acolhimento vão ao ar, respectivamente, nos dias 15 e 16, sempre às 19h.
Segundo o maestro Abel Rocha, diretor da Ossa e da trilogia, a construção da nova obra já em seu planejamento e materiais procurou enfatizar o que há de mais humano na lida com a pandemia, aproximando ainda mais os integrantes da Ossa de seu público, sem perder de vista as especificidades do dia a dia de um músico profissional: mostrando como eles são, sem pedestais. “A palavra-chave do projeto foi empatia: oferecer ao público a nossa para com eles, e fortalecer a deles para conosco”, comenta o maestro.
A atuação dos músicos é constante nos três episódios, mas eles somente tocam seus instrumentos no “passado”, nas gravações já existentes do acervo da orquestra e utilizadas como base sonora para a trilogia.
Para fazer valer a tradição da Ossa de valorizar a produção musical nacional, para servir de base musical para cada um dos vídeos foram escolhidas peças de compositores brasileiros: a Abertura Festiva de Mozart Camargo Guarnieri, nome importante na história recente de música orquestral nacional, o Episódio Sinfônico de Ronaldo Miranda, compositor atuante no cenário nacional atual, e Vivaldiana, de Denise Garcia, compositora também atuante no cenário nacional e autora de Ouro Preto – Mariana, escrita especialmente para a Sinfônica de Santo André.
“É, portanto, da fusão entre os registros da orquestra em concerto e o material audiovisual inédito produzido pelos próprios integrantes, e mediada pela inteligência visual de Luisa Almeida a costurar as três pequenas narrativas, que emerge a Trilogia Trancafiada, pondo lado a lado as tensões dos discursos musical e da imagem, possibilitando ao espectador apreciar de maneira inédita esses videoconcertos”, destaca o maestro Abel Rocha.
Parceria
Para o maestro Abel Rocha, assim como o compositor organiza notas musicais no tempo e as distribui pelos timbres de uma orquestra, a artista visual mineira Luisa Almeida convidada para o trabalho estabeleceu um conjunto de ações visuais específicas, realizadas pelos músicos da orquestra para, então, compor visualmente o resultado da trilogia, organizando-as numa montagem rica de sentido e significados.
“Havia a urgência e a necessidade de expressar os sentimentos enclausurados nesse contexto abrupto de isolamento social. Em um conversa com o maestro Abel Rocha, chegamos aos conceitos chave da Trilogia. Ansiedade, Adaptação e Acolhimento carregam um semblante e uma essência em comum das situações e adaptações cotidianas que foram vivenciadas, não somente pelos músicos, mas por todos nós. Em meio a sentimentos controversos e confusos fomos submetidos a uma reinvenção para essa ‘nova normalidade’, por essa razão, a Trilogia representa um processo de transmutação”, afirma a artista visual Luisa Almeida.
A trilogia
A Trilogia Trancafiada é dividida em três episódios: A Ansiedade abre a série pois talvez seja o sentimento inaugural experimentado por muitos no contexto da quarentena. A consciência da necessidade da suspensão intercalada com a diária preparação e a prontidão para o momento do retorno da rotina. Mas quando esse retorno? Não há respostas, há somente a espera, a incerteza e o decorrente incômodo. Para compor visualmente este vídeo considerou-se o relacionamento de um músico com seu instrumento, para além do fenômeno da produção sonora propriamente dita. Afinal, cada instrumento demanda um cuidado específico, e isso dificilmente transparece diante do público nos momentos de apresentação.
A Adaptação é o segundo momento. Um processo nem sempre saboroso, muitas vezes confuso e conturbado, no qual é difícil se situar, embora situar-se nele seja necessário. Contudo, aos poucos, os turbilhões vão tomando formas, as simultaneidades, desembaraçando-se, e as distâncias, tornando-se palpáveis. O vídeo abusa da sobreposição de imagens, para produzir o desconforto causado pelo acúmulo de tarefas, e reproduzindo, através da ágil altercação das cenas, a sensação de ser absorvido pelas novas rotinas de casa, de higiene e autocuidado, sem poder perder de vista as antigas: a prática do instrumento.
O Acolhimento é o terceiro e último momento, que se inicia de maneira agridoce. Objetos ordinários, cotidianos e outrora ignorados ser tornam companheiros e simultaneamente espectadores dos processos de transformação, íntimos e pessoais. Ao mesmo tempo, a incerteza quanto ao retorno se cristaliza em espera serena. Todo quanto aparecera cinza em Ansiedade, agora surge colorido: acolher a dor também pode gerar uma abertura para enxergar o mundo com novas cores, sendo essa vivência o mote para encerrar nosso percurso.
Apresentação da Trilogia Trancafiada – projeto Ossa em Casa
Trilogia Trancafiada: Videoarte em três episódios
Dia 14 de Agosto, 19h – Episódio 1 – Ansiedade
Dia 15 de Agosto, 19h – Episódio 2 – Adaptação
Dia 16 de Agosto, 19h – Episódio 3 – Acolhimento
Os vídeos serão publicados numa playlist especial da Sinfônica de Santo André, no canal YouTube da Secretaria de Cultura de Santo André