Dias Mundiais da Floresta (21) e da Água (22) reforçam a importância da conservação do bioma para segurança hídrica. Foto: Divulgação
Dias Mundiais da Floresta (21) e da Água (22) reforçam a importância da conservação do bioma para segurança hídrica. Foto: Divulgação

Plantar floresta para colher água. Não é por acaso que a ONU (Organização das Nações Unidas) elencou o Dia Mundial da Floresta (21), e em seguida o da Água (22). As florestas são o lar de cerca de 90% de toda vida terrestre e garantem uma gama de serviços ambientais essenciais para sobrevivência humana, principalmente a disponibilidade hídrica. Sem floresta, não há água. No Brasil, a Mata Atlântica concentra 72% da população, 17 estados, 3.429 municípios, três dos maiores centros urbanos do continente sul americano e nove das 12 bacias hidrográficas do país. Traduzido em valores, isso significa 70% do PIB nacional.

Devido a essa magnitude, o bioma precisa de muita atenção, pois ele está reduzido a apenas 12,4% da cobertura original, segundo dados da Fundação SOS Mata Atlântica, o que torna urgente mais ações – da iniciativa pública, privada e sociedade organizada – que visem a sua conservação e a gestão eficiente dos recursos naturais provenientes da floresta, e a manutenção dos mananciais.
Crises hídricas como as vivenciadas em 2014 e 2018, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, despertam o questionamento do porquê falta água no país que concentra 12% de toda água doce do planeta. Os motivos são complexos, passando por questões ambientais, econômicas e de gestão dos recursos hídricos e do saneamento básico. Porém, também são esses cenários que reforçam a busca pela resposta na natureza.


O principal papel das florestas na manutenção dos ciclos hidrológicos é com a produção de chuvas, abastecimento dos lençóis freáticos (rios subterrâneos), na retenção da umidade do solo, e proteção dos rios e mananciais de erosão e assoreamento. O estudo “Retrato da Qualidade da Água nas Bacias da Mata Atlântica” realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica em 230 rios, córregos e lagos de 102 municípios dos 17 estados que o bioma compreende, mostrou que há uma relação direta da boa qualidade da água com a existência da floresta. Todos os pontos de coleta com qualidade boa da água estão em áreas onde a Mata Atlântica está conservada.


O contrário também foi notado quando nascentes, margens de rios e áreas de manancial estão desprotegidas. Dos rios das nove bacias hidrográficas da Mata Atlântica (localizadas nos 17 estados de abrangência do bioma), em apenas 6,5% a água é considerada boa e própria para consumo, sendo que a qualidade também está diretamente ligada aos diferentes modos de utilização do solo, da floresta, com as variações do clima e com os diferentes usos da água, como o abastecimento humano, irrigação, pesca, lazer e turismo. Esse número revela que para aproveitar o imenso potencial hídrico das bacias da Mata Atlântica, a saúde dos rios pede não só atenção, mas soluções.


No mundo, há bons exemplos de investimentos na proteção de recursos hídricos, como Nova Iorque, que há dez anos protegeu suas maiores bacias hidrográficas e hoje economiza milhões dólares em tratamento de água. No Brasil, há modelos bem-sucedidos na sociedade civil organizada, e também na iniciativa privada. Dentre os exemplos para conservar os recursos hídricos com o manejo adequado da floresta, há as estratégias de conservação por meio de Reserva Privada de Desenvolvimento Sustentável. Uma delas é o Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do país.

Preservação dos biomas é essencial para segurança da água. Foto: Divulgação
Preservação dos biomas é essencial para segurança da água. Foto: Divulgação

Localizada no Vale do Ribeira no Estado de São Paulo, a área foi adquirida a partir da década de 1940 e conservada desde então pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA). Há oito anos, a Reserva se tornou uma empresa da Reservas Votorantim que combina conservação ambiental com a utilização de recursos naturais de forma sustentável, incluindo o desenvolvimento das comunidades da região a partir de negócios inclusivos e com a floresta em pé, como o ecoturismo, a produção e comercialização de plantas nativas da Mata Atlântica no viveiro e compensação ambiental por meio de reserva legal.


Com 31 mil hectares de floresta nativa (extensão aproximada à cidade de Curitiba – PR), a floresta do Legado das Águas é um refúgio para boa parte da extensão do Rio Juquiá, um dos principais afluentes da bacia hidrográfica Ribeira de Iguape e Litoral Sul. Cerca de 75% da cobertura vegetal está em alto grau de conservação, o que significa muita floresta primária de boa qualidade para proteger o rio, que abastece casas, fornece alimento e outras atividades produtivas para boa parte da população do Vale do Ribeira.
David Canassa, diretor da Reservas Votorantim, explica que as atividades de ecoturismo do Legado das Águas ilustram o bom uso do potencial hídrico e a conservação da floresta. “Iniciamos o ecoturismo na Reserva em meados de 2017 e, atualmente, é um dos principais produtos do nosso portfólio. Conseguimos aliar muito bem o respeito com a natureza, com a floresta e os negócios.

Chegamos a receber mais de 300 turistas ao mês, e a demanda é crescente. Com a boa gestão das operações das atividades, o ecoturismo é um negócio promissor e um modelo que pode ser aplicado em outras áreas privadas. É importante que essas alternativas sejam conhecidas, que os proprietários de terra saibam que podem fazer boas escolhas, como investir na própria propriedade, ou em áreas como o Legado das Águas”, explica Canassa.


Canassa também diz que o ecoturismo na Reserva cumpre um importante papel na disseminação de informação e conhecimento sobre a Mata Atlântica. “A gente só protege o que a gente conhece. Por isso, um dos nossos objetivos com o ecoturismo também é reconectar as pessoas com esse bioma, gerando conhecimento, bem-estar e qualidade de vida”, complementa.


Sobre a geração de conhecimento, o diretor ainda diz que uma das frentes de atuação do Legado das Águas é a pesquisa científica. “Já que a floresta é essencial para a disponibilidade hídrica, para entender o ecossistema desse bioma, investimos em diferentes frentes de pesquisa, de fauna à flora, algumas inéditas e outras com descobertas únicas. Mas o objetivo não é reter esse conhecimento, e sim compartilhá-lo para que sirva de base ou apoio de ações conservacionistas e de educação ambiental. Em oito anos de existência do Legado das Águas, impactamos mais de 15 mil pessoas com conhecimento sobre a Mata Atlântica. Acreditamos que é desta forma e com ações complementares e coletivas que valorizaremos a Mata Atlântica. Os Dias Mundiais da Floresta e da Água são momentos para renovar o pacto que todos os setores da sociedade devem ter com o uso consciente e sustentável dos recursos naturais. É momento de pensar qual é o Legado que queremos construir”, finaliza Canassa.
Nota: as informações sobre o território, população, remanescente e bacias foram extraídas de estudos da Fundação SOS Mata Atlântica.


Sobre o Legado das Águas – Reserva Votorantim
O Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do país, com extensão aproximada à cidade de Curitiba (PR), é um dos ativos ambientais da Votorantim. Localizada na região do Vale do Ribeira, no sul do Estado de São Paulo, a área foi adquirida a partir da década de 1940 e conservada desde então pela Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que manteve sua floresta e rica biodiversidade local com o objetivo de contribuir para a manutenção da bacia hídrica do Rio Juquiá, onde a companhia possui sete usinas hidrelétricas.
Em 2012, o Legado das Águas foi transformado em um polo de pesquisas científicas, estudos acadêmicos e desenvolvimento de projetos de valorização da biodiversidade, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo.
Hoje, o Legado das Águas é administrado pela empresa Reservas Votorantim, criada para estabelecer um novo modelo de área protegida privada, cujas atividades geram benefícios sociais, ambientais e econômicos de maneira sustentável.