Por Caio Bruno

Presidente Jair Bolsonaro – foto Alan Santos/PR

Aparentemente há um Jair Bolsonaro diferente na praça há duas semanas. Sem desdenhar explicitamente da pandemia do coronavírus, nem espantar a sociedade com declarações absurdas aos seus apoiadores no cercadinho na porta do Alvorada e tampouco apoiar, explícita ou implicitamente, manifestações antidemocráticas de rua ou de seus ministros, gurus e filhos.

No lugar está um ex-capitão more presidential, como diriam os americanos Comedido, pouco fala e quando discursa fala amenidades, coisas protocolares e estende a mão ao Legislativo e ao Judiciário, declarando a intenção de construir pontes, querendo a paz e uma condução tranquila dos rumos do país. Um desses gestos foi a exoneração de Abraham Weintraub do Ministério da Educação, um senhor que dispensa comentários.

Não coincidentemente a mudança vem desde o dia 18 de junho quando o amigo de longa data e ex-assessor de seu filho Flávio, Fabrício Queiroz foi preso em Atibaia após longo sumiço. O policial militar aposentado é peça-chave nas investigações sobre esquema de “rachadinhas” no gabinete do hoje senador, então deputado estadual no Rio de Janeiro.

Há outros fantasmas rondando JB e todos eles envolvendo os filhos, os únicos para quem ele realmente move mundos e fundos. Queiroz, se falar, pode detalhar um esquema mais complexo de corrupção e ligação com milícias, também corre processos de cassação no TSE, inquérito das Fake News no STF, além da velha ameaça de impeachment, essa afastada atualmente com a aliança com o Centrão.

Quem conhece sua história sabe que Bolsonaro não mudou internamente. Os pensamentos e valores estão lá, são exatamente os mesmos. Foram as circunstâncias que o levaram a vestir esse figurino. Seja para que a prole não fique em apuros ou que ele mesmo não seja apeado do poder e, quem sabe, se reeleja.

De qualquer forma, o Brasil respira e agradece a lufada de ar vinda do Planalto e torce para que isso perdure. Temos uma pandemia pela frente com reflexos em diversas áreas e é importante o foco e a resolução dessas questões.

Resta saber até quando o presidente vai aguentar manter a pose.

Caio Bruno é jornalista, pós-graduado em Comunicação e especialista em Marketing Político. www.caiobruno.com.br