Além da Black Friday, a sexta-feira tem outras simbologias. Foto: Divulgação
Além da Black Friday, a sexta-feira tem outras simbologias. Foto: Divulgação


Por Victor Missiato

A sexta-feira costuma ser um dia de muitas alegrias para os brasileiros. “Sextou” tornou-se um verbo em homenagem ao fim do expediente e a expectativa do final de semana. Todavia, nem sempre a sexta-feira teve este mesmo sentido. Tradicionalmente, a sexta-feira possui um sentido ligado à tristeza ou ao infortúnio. A sexta-feira mais conhecida da História remete à morte de Jesus Cristo, único dia do ano em que missas e cultos não se realizam. Na mitologia nórdica, há a história de um banquete em que Loki, ao não ser convidado para um jantar organizado por Odim, matou um dos convidados. No século XIV, o rei Felipe IV entrou em conflito com a Igreja Católica e tentou adentrar a ordem religiosa dos Cavaleiros Templários, sendo negada sua admissão. Descontente com tal decisão, o Rei teria ordenado a perseguição dos templários em uma sexta-feira, 13 de outubro de 1307. De lá pra cá, a sexta-feira 13 ganhou maior notoriedade nas telas de cinema, quando o assassino Jason aterrorizou diversas pessoas em suas várias edições.
No caso da chamada Black Friday, a primeira vez em que este termo apareceu foi em setembro de 1869, quando Jay Gould e James Fisk, dois especuladores, ludibriaram o sistema financeiro norte-americano ao especularem em torno da compra e venda da distribuição do ouro, então principal fonte de lastro. Quando o governo descobriu a engenharia trapaceira, interviu na correção da especulação, aumentando a quantidade de ouro no mercado, o que fez com que os preços caíssem e muitos investidores perdessem investimentos.
Embora passível de discussões, o sentido contemporâneo da Black Friday surgiu através da Factory Management and Maintenance – uma newsletter voltada para informações relativas ao mercado de trabalho. De acordo com Bonnie Taylor-Blake, pesquisador da Universidade da Carolina do Norte, em 1951, uma circular fez rodar uma notícia que afirmava haver uma síndrome da sexta-feira pós-Dia de Ação de Graças, quando muitos trabalhadores alegavam sentir diversos tipos de enfermidades ao terem que trabalhar nessa data específica.
Nas décadas de 1950 e 1960, quando a cultura do consumo espraiou-se pelos EUA, sua população começou a encher ruas e avenidas em busca das melhores ofertas. Porém, nesse período, o termo Black Friday ficou conhecido apenas na região da Filadélfia, atravessando algumas outras regiões em menor escala. Foi nos anos 1990, com a explosão do neoliberalismo e o fim do comunismo enquanto sistema alternativo à modernidade, é que a expressão Black Friday ganhou maior notoriedade e relevância. A partir do barateamento mundial das mercadorias, quando diversas fábricas e empresas migraram para países com baixo custo de produção, além do desenvolvimento financeiro do sistema de crédito, a data passou a compor o calendário de compras da sociedade norte-americana e de várias outras nações.
No Brasil, a primeira Black Friday teve início no ano de 2010, quando o governo Lula estimulou os consumidores a saírem de casa e consumirem à vontade, como uma forma de conter os danos causados pela Crise de 2008. Como o sistema de crediário recebeu grande suporte governamental, as empresas brasileiras resolveram adotar a data como uma forma de aquecer o consumo antes do Natal, criando praticamente dois Natais em três meses. Em uma década, a Black Friday tornou-se uma data oficial da cultura do consumo nacional, sendo aguardada por muitos e aprimorada ano após ano com a modernização das compras online.
Victor Missiato é doutor em História, professor do Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília e membro do grupo Intelectuais e Política nas Américas (UNESP/Franca).


Sobre os Colégios Presbiterianos Mackenzie

Os Colégios Presbiterianos Mackenzie são reconhecidos, hoje, pela qualidade no ensino e educação que oferecem aos seus alunos, enraizada na antiga Escola Americana, fundada em 1870, por George e Mary Chamberlain, em São Paulo. A instituição dispõe de unidades em São Paulo, Tamboré (em Barueri-SP), Brasília (DF) e Palmas (TO). Com todos os segmentos da Educação Básica – Educação Infantil (Maternal, Jardim I e II), Ensino Fundamental e Ensino Médio, procura o desenvolvimento das habilidades integrais do aluno e a formação de valores e da consciência crítica, despertando o compromisso com a sociedade e formando um indivíduo capaz de servir ao próximo e à comunidade. No percurso da história, o Mackenzie se tornou reconhecido pela tradição, pioneirismo e inovação na educação, o que permitiu alcançar o posto de uma das renomadas instituições de ensino que mais contribuem para o desenvolvimento científico e acadêmico do País.
Em 2021, serão comemorados os 150 anos da instituição no Brasil. Ao longo deste período, a instituição manteve-se fiel aos valores confessionais vinculados à sua origem na Igreja Presbiteriana do Brasil.