Aquela falta de paciência constante que gera irritação, brigas e até agressões físicas não pode ser tratada como algo normal, principalmente se começar a aumentar a frequência destes episódios. O psicanalista e neurocientista Fabiano de Abreu alerta que episódios de raiva podem ser um sinal de doenças e transtornos emocionais.
O profissional, que tem entre suas formações um certificado de Harvard, nos Estados Unidos, em neurociência, e livros que falam sobre comportamento humano, afirma que ansiedade, estresse e raiva estão interligados. “São uma cascata de emoções, que com esta pandemia se potencializa.”, afirma Abreu.
Raiva e ataques de fúria têm acontecido bastante nesta pandemia, “é a perda da consciência dos atos, a raiva se dá quando os neurotransmissores estão descontrolados”, explica.
O cenário de instabilidade e crise pode aumentar os transtornos, principalmente a ansiedade, e colabora para o aumento de casos de ataques de raiva. “Os ataques de raiva aumentaram na pandemia, sem dúvida”, destaca.
No Brasil e em Portugal, países onde têm um centro de pesquisas, o CPAH – Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, o pesquisador ressalta que já existe elevado número de pessoas diagnosticadas com Transtorno de Ansiedade, “O brasileiro é um povo ansioso, mais que o português, inclusive a Organização Mundial da Saúde, baseada em dados coletados sobre 2019, constatou que o brasileiro é o povo mais ansioso do mundo”.
De acordo com Fabiano, a ansiedade está ligada às pendências, o que faz deste cenário muito propício, visto que milhares de pessoas precisaram abrir mão do cotidiano, vivem com medo da doença e do desemprego. “ Acredito, inclusive, que o número de mortes esteja relacionado a isso, pois a ansiedade leva ao estresse, que debilita o organismo”. A explicação dele é que situações estressantes fazem o corpo liberar cortisol, hormônio que ajuda na imunidade. Se a situação for constante, o corpo vai liberar de forma anormal esta substância, o que baixa a imunidade.
Quando buscar tratamento?
O neurofilósofo afirma categoricamente que é quando se sente fadiga, o cansaço crônico. “Quando o cortisol está trabalhando para resolver o seu estresse, acaba usando sua glicose, energia, gordura, e você fica cansado por fora. Logo, cansaço é um sintoma comum”, explica destacando que não é aquele cansaço comum após fazer um esforço físico, por exemplo, mas sim aquele que não passa, que a pessoa já acorda sem disposição. Outros indicativos são os comentários de quem convive com o indivíduo, é fundamental prestar atenção se ouvir constantemente que está ansioso e até incomodando os demais. Além disso, a perda de raciocínio é frequente nestes casos, “quem perde o raciocínio lógico está com sintoma de ansiedade”. Ainda é possível sentir calafrios, taquicardia, sudorese, boca seca, dor de cabeça e tontura, “esta é a hora de buscar um psicólogo ou psicanalista, pois se for direto ao psiquiatra, pode acabar tomando remédios sem necessidade”, explica. Fabiano ainda afirma que, geralmente, transtornos e síndromes estão ligados a traumas do passado. E tem que cuidar disso. O primeiro caminho é ter consciência do problema.