A Organização Mundial de Alergia (World Allergy Organization – WAO) promove entre os dias 13 e 19 de junho a Semana Mundial de Alergia, que neste ano se dedicará a debater a anafilaxia entre especialistas de vários países. Apresentação mais grave entre as reações alérgicas, e potencialmente fatal, a anafilaxia pode envolver vários órgãos e sistemas. Ocorre de forma grave e rápida e é desencadeada, geralmente, por um alérgeno – em geral, alimentos como o leite, castanhas, frutos do mar, soja ou trigo. Em outros casos, também pode ser provocada por medicamentos e venenos de insetos.
Considerando a necessidade de orientar médicos e pacientes sobre o tema, a WAOelaborou um guia que orienta sobre o manejo adequado da anafilaxia. Entre as causas que comprometem o tratamento da alergia, a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) ressalta a falta de reconhecimento dos sintomas (por parte de pacientes, cuidadores e médicos), o atraso na administração ou mesmo a não utilização da adrenalina, além do desconhecimento de como conduzir o tratamento após o episódio.
“O medicamento mais importante no tratamento da crise anafilática é a adrenalina. Sempre que um indivíduo apresentar uma crise de anafilaxia, deve ser atendido em caráter emergencial no pronto-socorro, onde o médico fará avaliação clínica para seguir com os cuidados necessários. Importante reforçar que a aplicação de adrenalina deve ser por via intramuscular e não deve ser retardada, pois a demora da aplicação é proporcional ao risco de óbito”, explica a pediatra e coordenadora do Setor de Alergia e Imunologia Clínica do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), Dra. Neusa Falbo Wandalsen.
As características da anafilaxia são: diminuição da pressão arterial, taquicardia e distúrbios gerais da circulação sanguínea, acompanhadas ou não por edema da glote e urticária. Também podem ser desencadeados sintomas respiratórios, gastrointestinais e neurológicos. Por isso, ressalta-se a necessidade da conscientização coletiva entre médicos, pacientes e cuidadores.
“Recentemente, os critérios clínicos para o diagnóstico das reações anafiláticas foram modificados. Essa novidade será abordada enfaticamente na Semana Mundial de Alergia deste ano, com o intuito de levar a uma melhor definição da anafilaxia e, consequentemente, um tratamento mais adequado. Em suma, o objetivo é prevenir a alta taxa de mortalidade”, completa a pediatria e preceptora do Setor de Alergia e Imunologia da FMABC, Dra. Seme Silva Leitão.
Segundo as docentes, o treinamento de médicos direcionados aos episódios de anafilaxia deve envolver, inclusive, a administração da adrenalina por familiares ou cuidadores do paciente em casos de emergência. No Brasil, porém, não é possível adquirir os autoinjetores, pois ainda não há registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que permita sua comercialização. O problema ainda é considerado um entrave em diversos países e deve pautar debates no evento deste ano.
A cada ano, a WAO aborda um tópico diferente na Semana Mundial de Alergia para estimular a conscientização de especialistas e da população em geral. O infográfico com dados adicionais sobre prevenção e tratamento da anafilaxia está disponível no link https://is.gd/A5q8tu.
Incidência
Segundo estudos analisados pelas docentes da FMABC, a incidência global de anafilaxia em adultos se encontra entre 50 e 112 episódios a cada 100 mil indivíduos por ano, enquanto o número de pessoas acometidas representa de 0,3 a 5,1% da população, variando de acordo com a área geográfica. Entre crianças, estudos recentes mostram que a incidência varia de 1 a 761 por 100 mil pessoas a cada ano, sendo que os episódios se repetem em cerca de 25% a 50% das vezes.
O número de atendimentos por essa reação grave tem aumentado, especialmente na faixa etária entre 0 e 4 anos, em diferentes países. As causas principais que desencadeiam a reação alérgica em crianças são alimentos e medicamentos. Durante a fase de amamentação, as crianças pequenas são as mais propensas à anafilaxia. Os alimentos são os principais responsáveis, especialmente o leite de vaca.