O pedreiro Geraldo Pedro de Lima, 61 anos, morador do bairro Ferrazópolis, em São Bernardo, já perdeu as contas de quantas casas já construiu, desde que deixou a antiga fábrica da Brastemp, em 1991. Mas o ex-metalúrgico gravará para sempre na memória a sua primeira experiência como co-autor na elaboração de uma obra de arte. Com o artista são-bernardense Daniel Melim, Lima ajudou trazer à vida o mural “Nossos Nós”, instalado na Biblioteca Monteiro Lobato, no centro de São Bernardo, por meio de edital de artes urbanas da Lei Federal Aldir Blanc (Lei Federal 14.017/2020).
Esta intervenção foi entregue em agosto, mês em que a cidade completa 468 anos de existência. Para celebrar a data, a Prefeitura de São Bernardo, por meio da Secretaria de Cultura e Juventude, acaba de criar um circuito de artes urbanas no Centro da cidade, com as demais obras premiadas neste edital. Entre os espaços que ganharam as intervenções de artes urbanas na região central estão: a Câmara de Cultura Antonino Assumpção, Praça da Matriz, o Centro de Memória e a Pinacoteca.
Para o secretário de Cultura e Juventude, Adalberto Guazzelli, a manifestação artística urbana tem um papel de grande importância na sociedade. “A Lei Federal Aldir Blanc possibilitou aos artistas da cidade a expansão de seus horizontes, permitindo que suas obras sejam mais acessíveis aos munícipes, já que as propostas foram apresentadas em diversos espaços públicos do município, tornando-o mais belo”, disse.
Obra pioneira
Morador do bairro Ferrazópolis, o artista Daniel Melim é considerado um dos nomes mais importantes do cenário da arte urbana brasileira. Um de seus trabalhos, o “Mural da Luz”, que ocupa um prédio perto da Pinacoteca de São Paulo, foi eleito, em 2013, como a obra representativa da cidade.
A ideia de criar uma obra mais duradoura surgiu depois de inúmeros debates gerado sobre a obra icônica, que quase foi apagada. O mural “Nossos Nós” conta com elementos da arquitetura, sendo pensado para ser uma espécie de praça dentro da biblioteca.
“Investir em intervenções com maior durabilidade surgiu em virtude desta obra, e depois do trabalho que tivemos lá. Este projeto na biblioteca é pioneiro. Vim do grafite e minha ideia foi subverter e pensar em uma arte pública, usando a sabedoria dos trabalhadores da região”, disse Melim.
O Mural conta com 3,8 m por 11 m, mesclando elementos da arquitetura, construção e arte urbana. O espaço conta com jardim vertical, trecho feito com tinta cimentícia, azulejo, chapa de metal, alto relevo em cimento, banco e pintura do espaço. Além do ex-metalúrgico e pedreiro Geraldo de Lima, a obra contou com a participação de Hélio Geraldo da Silva, 73 anos, pai de Melim.
Confira as demais obras de arte espalhadas pelo centro da cidade:
– Câmara de Cultura Antonino Assumpção (Rua Marechal Deodoro, 1325, Centro) – Este espaço recebeu intervenções de dois muralistas:
• Júlio César Friedrich, com “Os Batatas”, que proporciona ao público uma viagem no tempo histórico da cidade.
• Thiago Toes, com “O mestre mensageiro, que fala sobre o oculto da consciência e tensões históricas.
– Praça da Igreja Matriz (Rua Marechal Deodoro, Centro)
• O artista Márcio Fidelis levará a intervenção “Escuta Elevada”, obra em forma de orelhas fixadas nos objetos para escutar o barulho de uma cidade que nunca se cala.
– Centro de Memória (Alameda Glória, 197) – Este espaço recebeu a intervenção de dois artistas:
• Michel Cena7 destaca o sentimento de pertencimento local com a obra “Diálogos de uma Memória Popular”.
• Renata Santos, com a obra “Harmonia”, painel que harmoniza e mostra a beleza da natureza em meio ao caos dos centros urbanos.
– Pinacoteca de São Bernardo (Rua Kara, 105 – Jardim do Mar) – recebe as obras de quatro artistas:
• “Monalisas Brasileiras”, de Dilson Cavalcante, com curadoria de Rubens Pontes, que consiste em 20 imagens em cartazes lambe-lambe homenageando mulheres do cenário artístico nacional.
• Dumas Seixas, com Alfabéticos II, mosaico que transita entre as artes gráficas e plásticas.
• Felipe Macedo, com “Estamos conectados ponto a ponto formando a grande teia da vida”, cria uma malha de figuras geométricas por meio de cruzamentos de linhas de cordas coloridas.
• Lucas Duarte, com o mural “Revoada”, com uma série de máscaras de stencil que expressa movimento físico e lúdico.