Entre janeiro de 2022 e agosto de 2023, o Hospital Estadual Mário Covas (HEMC), em Santo André, ajudou 113 pacientes a saírem da fila do transplante de órgãos. Este ano, até agosto, o número de órgãos captados e posteriormente doados foi de 60. Durante todo o ano passado o índice foi de 53. A unidade realiza o trabalho com o apoio da Organização de Procura de Órgãos (OPO) do Instituto Dante Pazzanese, de São Paulo, desde 2016.
Ao todo, foram doados entre janeiro e agosto deste ano: 28 rins, 20 córneas, 10 fígados, 1 pâncreas e 1 coração. A agilidade na notificação de morte encefálica é fundamental para o processo de doação de órgãos e transplantes, cuja fila de espera cresce no Brasil e no mundo. O tempo para que o protocolo seja concluído com sucesso é limitado, envolvendo a confirmação da morte encefálica, preservação do corpo, autorização dos familiares, notificação e retirada dos órgãos.
No Hospital Estadual Mário Covas, houve redução expressiva do tempo médio para encerramento do protocolo, segundo comparação entre 2022 e 2023. O índice caiu de 24h02 para 14h45 minutos, queda de 41%. “A melhora foi significativa. Isso deve-se, principalmente, à ampliação das visitas médicas nas UTIs, que passaram a ocorrer de manhã e à tarde. Assim, os médicos realizam os testes com maior agilidade. Além disso, a visita da equipe multidisciplinar ocorre duas vezes por dia, o que também possibilita um tempo de intervalo mais preciso para cumprimento adequado das fases do protocolo”, explica a enfermeira da Comissão Intra-hospitalar de Órgãos e Tecidos (CIHDOTT) do HEMC, Simone Contardi Barros.
A unidade dispõe de estrutura preparada para a captação dos órgãos. A CIHDOTT, formada por equipe multidisciplinar, realiza a avaliação do potencial doador, confere o histórico do prontuário do paciente e encaminha todas as informações para a OPO do Instituto Dante Pazzanese. Em paralelo, a equipe da CIHDOTT acompanha os testes clínicos realizados pelos médicos, caso o órgão se enquadre para ser disponibilizado na fila de transplantes. Com a aprovação dessa fase, os familiares do possível doador são entrevistados pelos membros da Comissão, a fim de explicar todas as etapas do processo. O acolhimento das famílias para esclarecimento de dúvidas é considerado etapa fundamental para a decisão favorável dos entes pela doação.
RECONHECIMENTO
Em 2022, o HEMC estava entre as 10 instituições do Estado que mais notificam as ocorrências de morte encefálica, essencial para o protocolo que envolve a retirada e transplante de órgãos. O ótimo desempenho da unidade já rendeu ao hospital dois prêmios “Amigo do Transplante”, em 2018 e 2022. No ano passado, a premiação foi entregue durante o II Encontro das Comissões Intra-Hospitalares de Transplantes do Estado de São Paulo (ECESP). Na ocasião, outra unidade gerenciada pela Fundação do ABC foi reconhecida, o Hospital Municipal de Mogi das Cruzes (HMMC).
ATO DE AMOR
A doação de órgãos deve ser consentida e quem quiser ser doador não precisa mais incluir a informação no RG ou na CNH – basta comunicar a família sobre esse desejo. No caso dos falecidos, a autorização para doação deve ser dada por familiares com até o 2º grau de parentesco. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde, a conscientização das pessoas cresceu no último ano, pois as recusas de autorização da doação por parte das famílias caíram de 41% para 38,6%. Já a doação entre vivos só ocorre se não houver nenhum problema de saúde para a pessoa que está doando.
Conforme diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), pessoas com diagnóstico de Covid-19 com menos de 28 dias da regressão completa dos sintomas não podem ser doadores. A Central de Transplantes do Estado de São Paulo destaca que doar órgãos e tecidos é fundamental para ajudar a salvar vidas. Além disso, reforça a orientação de que haja diálogo entre as famílias sobre o desejo de ser ou não doador de órgãos, pois facilita a tomada de decisão.