De acordo com o Ministério da Saúde, há uma estimativa de que nas sete cidades do Grande ABC vivam cerca de 270 mil asmáticos. A asma, doença respiratória e quarta maior causa de hospitalização no Sistema Único de Saúde (SUS), é responsável por aproximadamente 350 mil internações por ano. De acordo com dados do DATASUS, departamento de informática do SUS, a região do Grande ABC ocupa a 5ª posição no ranking de óbitos por asma entre as 62 regiões do Estado de São Paulo.
Considerando este preocupante cenário, o Grupo de Estudos e Pesquisa Respiratória na Atenção Primária (GEPRAPS), ligado ao Centro de Estudos de Saúde Coletiva do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC (CESCO-FMABC), em Santo André, decidiu propor iniciativas e soluções para mobilizar gestores, profissionais de Saúde, pacientes, familiares e sociedade em prol da importância do papel da Atenção Primária na prevenção e controle da asma, bem como da necessidade de cuidados adequados e melhoria do acolhimento dos pacientes nos postos de saúde do Grande ABC. A iniciativa foi batizada de “Programa ABC-Asma Zero” e tem colaboração do Grupo Respiratório Internacional nos Cuidados Primários (IPCRG).
Sobre a ação
Um dos principais pontos do projeto trata da educação coletiva para uso racional do medicamento sulfato de salbutamol, conhecido como SABA, um broncodilatador de curta duração que atua na dilatação dos brônquios. Segundo as recentes publicações da diretriz internacional Global Initiative for Asthma (GINA) – ou Iniciativa Global para Asma – e também de acordo com recomendações para o manejo da asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), não há indicação do tratamento da asma em adultos e adolescentes com uso individual do SABA.
Apesar de ser altamente eficaz para alívio rápido dos sintomas de falta de ar, pacientes tratados apenas com este medicamento – em comparação com corticoides inalatórios – apresentam risco aumentado de mortalidade e agravamento da doença, o que exige cuidados ainda mais rigorosos com a saúde.
“A asma é uma doença que ainda interna muito, apesar de atualmente haver acesso melhorado às medicações em comparação com 10 anos atrás. Porém, como muitos pacientes ainda não conseguem ter acesso ao médico para a realização do diagnóstico, ou por falta de capacitação do profissional de saúde – que às vezes indica tratamentos desatualizados ou inadequados – acabam se excedendo no uso do broncodilatador, as famosas ‘bombinhas’. Está comprovado por inúmeros estudos científicos, no entanto, que o uso excessivo piora as crises e aumenta o risco de mortalidade. A ‘bombinha’ não mata, mas precisa ser usada de forma racional. Muitos profissionais, ainda hoje, prescrevem SABA em xarope, o que não representa a melhor prática clínica, sendo considerada até um absurdo. Por isso, nossa proposta é fazer uma mobilização técnica, social e coletiva acerca do problema”, explica a autora do estudo, professora do Departamento de Saúde da Coletividade da FMABC e médica de Família e Comunidade, Dra. Sonia Maria Martins.
Levantamento de dados
Estima-se que existem cerca de 300 milhões de pessoas com asma no mundo. Na América Latina a prevalência da doença varia em torno de 4% a 30%, com média de 10% na maioria dos países. O Brasil ocupa a 8ª posição em prevalência mundial da asma, com taxas que variam de 10% a 20%, dependendo da região. A região Sudeste apresenta a maior prevalência da doença e os piores indicadores de internação.
O número de óbitos pela doença no Brasil tem diminuído nos últimos anos, pela consequência do acesso aos medicamentos essenciais para tratamento da asma. No entanto, os dados referentes à morbimortalidade decorrentes da asma ainda são negativos. Por dia, ainda morrem cerca de cinco brasileiros em decorrência da doença. Já os gastos anuais com internação giram em torno de R$ 120 milhões por ano.
No Grande ABC, uma análise feita entre 2016 e 2020 mostra que a população mais atingida pela doença em todos os municípios pertente à faixa etária de 1 a 4 anos de idade. No mesmo período, o município de Diadema apresentou o maior número de internações por asma, 1.498, e Rio Grande da Serra o menor número, 11, o que também pode sugerir ausência de registros. Os gastos com serviços hospitalares para tratamento e internação dos doentes, no período compreendido, foi de R$ 2,4 milhões, sendo R$ 477 mil apenas em 2020.