De acordo com a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), ao menos metade da população brasileira sofre ou já sofreu com sintomas de má digestão. Com a chegada da pandemia, as queixas de problemas digestivos também se tornaram recorrentes em muitos consultórios médicos. Isso porque fatores como alimentação, ganho de peso e ansiedade podem desencadear disfunções como azia e refluxo. Outro fator trazido pelo período, foi o incremento na prescrição de medicamentos anti-inflamatórios e corticoides, que podem levar a doenças mais graves como gastrite e úlcera.
A pirose, termo técnico para a azia, é a manifestação de refluxo do ácido estomacal para o esôfago, que pode ser causado, comumente, por situações como alimentação em excesso ou ricas em gorduras, molhos industrializados, ingestão de álcool, café, refrigerantes, tabagismo e, até mesmo, por altos níveis de estresse. De acordo com o médico especialista em cirurgia do aparelho digestivo pela Universidade de São Paulo (USP), Dr. André Rodrigues Martim Neto, uma mudança nos hábitos alimentares ajuda a controlar esses problemas.
“O controle de peso é fundamental no manejo do refluxo, uma vez que o ganho de peso habitualmente é um fator desencadeante de sintomas como pirose e queimação, principalmente, ao deitar e após as refeições. Alimentos ricos em gorduras e proteínas podem precipitar a sensação prolongada de distensão. Fazer as refeições em quantidades adequadas e balanceadas ajuda no controle dos sintomas e, ocasionalmente, permite a retirada da medicação nos casos de refluxo”, explica.
Quando os sintomas de azia e desconforto abdominal se tornam recorrentes, com náuseas e vômitos associados, pode ser um sinal de doença mais grave como gastrite ou úlcera. Nesses casos, o médico ressalta que a consulta com um especialista é mandatória para que todos os sintomas sejam investigados e esclarecidos.
“A gastrite é um processo inflamatório da mucosa do estômago. Já as úlceras são lesões escavadas profundas presentes no estômago ou duodeno e ambas podem ser causadas por anti-inflamatórios, corticoides ou pela presença da bactéria Helicobacter Pilory. O tratamento mais eficaz vai depender da causa de cada uma delas, sendo geralmente associado a remédios específicos como antimicrobianos e bloqueadores de produção de ácido”, indica o cirurgião.
Estresse, ansiedade e outras vulnerabilidades
Os episódios de estresse e ansiedade também são considerados gatilhos para o aparecimento de sintomas típicos de gastrite ou refluxo. Segundo o médico credenciado da Paraná Clinicas, mesmo que os exames do paciente estejam normais, é possível que fatores emocionais desencadeiem queimação, azia, dores abdominais, náuseas e sensação de distensão. Contudo, é preciso uma avaliação clínica para excluir causas orgânicas, manejar os sintomas e analisar a associação da crise a outras doenças funcionais.
Da mesma forma, existem pessoas que são mais suscetíveis a desenvolver doenças gastroenterológicas. Entre eles, estão os portadores de doenças reumáticas, articulares ou com dor crônica devido ao uso de anti-inflamatórios e corticoides com mais frequência. Outros grupos são lembrados pelo médico: “Populações com maior vulnerabilidade social estão mais expostas a contaminação pela H. Pilory e, consequentemente, mais propensas a lesões ulceradas gastroduodenais. O tabagismo e bebidas alcóolicas elevam as chances de gastrites, úlceras gastroduodenais e câncer de esôfago e estômago”, pontua.
Acompanhamento e tratamento
O acompanhamento de pacientes com gastrite e úlcera por um médico especializado é fundamental para identificar mudanças de comportamento, sintomas, indicadores de complicações ou apenas para o controle de medicamentos e ajustes alimentares. “Portadores de lesões ulceradas devem ser acompanhados por especialista para avaliar a cicatrização, excluir malignidade e confirmar a erradicação do H. Pilory, quando presente. Pacientes com dispepsia funcional e gastrites devem ser acompanhados de acordo com os sintomas após a exclusão de doenças orgânicas mais graves” destaca Dr. André.
O especialista afirma ainda que a utilização de medicamentos por tempo prolongado com o objetivo de inibir parcial ou totalmente a produção de ácido pelo estômago é parte integrante no tratamento de lesões gástricas e também do controle dos sintomas, mas deve ser acompanhado por especialista para controle da dosagem e identificação precoce de eventuais efeitos colaterais indesejados. Dr. André conclui alertando que receitas caseiras, como água com limão ou bicarbonato, podem trazer alivio parcial dos sintomas, porém podem atrasar o diagnóstico dificultando o tratamento posterior.