
Por Márcio Rodrigues da Silva
É fato que o setor de transportes é um dos principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa no Brasil. De acordo com o “Balanço Energético Nacional 2024“, realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 2023, as emissões relacionadas à matriz energética do país chegaram a 428 milhões de toneladas de CO₂ equivalente, sendo cerca de 50% proveniente do transporte de passageiros e cargas, o que corresponde a 217 milhões de toneladas. Diante desse cenário, a busca por soluções sustentáveis e eficientes tem se intensificado, especialmente no que diz respeito à eletrificação da mobilidade urbana.
Entre as alternativas para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, os sistemas de transporte elétrico, como trolleybus (trólebus), VLTs (Veículo leve sobre trilhos), trens e metrôs, ganham destaque. Além de não emitirem CO₂ durante a operação, esses modais apresentam vantagens em eficiência energética. No centro dessa transformação está o Cobre, um metal essencial para a transmissão de energia elétrica nesses sistemas, cuja aplicação garante não apenas um funcionamento confiável, mas também um impacto positivo na sustentabilidade da mobilidade urbana.
Amplamente utilizado em cabos de contato das redes aéreas desses transportes, o Cobre permite a condução eficiente da eletricidade que alimenta os veículos. Além disso, sua durabilidade e capacidade de reciclagem fazem dele um aliado fundamental para reduzir o impacto ambiental da infraestrutura de transporte. Diante dessas características, entender melhor o papel desse metal e os desafios relacionados à sua aplicação é essencial para o avanço da mobilidade sustentável nas cidades.
Alta condutividade e resistência mecânica são pilares para a eletrificação da mobilidade urbana
O desempenho dos sistemas de transporte elétrico depende diretamente da qualidade e da confiabilidade da infraestrutura de transmissão de energia. Nesse contexto, o Cobre se destaca por sua alta condutividade elétrica, que reduz perdas na distribuição da energia, garantindo que os veículos operem de maneira eficiente. Além disso, sua resistência mecânica minimiza o risco de rompimento dos cabos de contato, fator essencial para evitar interrupções no serviço.
Nos sistemas de trólebus, VLTs, trens e metrôs, o metal é utilizado na forma de perfis na liga 110 (Cobre eletrolítico), projetados para suportar as demandas da operação contínua. O formato dos perfis contém ranhuras específicas que facilitam a fixação nos pantógrafos dos veículos, assegurando uma conexão eficiente com a rede aérea. Esse
design contribui para a estabilidade da transmissão de energia, um fator essencial para sistemas de transporte que operam com altas tensões.
Além de proporcionar uma infraestrutura confiável, o uso do Cobre reduz a necessidade de manutenção frequente, um aspecto relevante para empresas concessionárias e para a própria gestão pública. A menor exigência de intervenções corretivas não apenas reduz custos operacionais, mas também minimiza impactos no funcionamento diário do transporte público, garantindo maior previsibilidade para os usuários.
Outro fator importante é a maleabilidade do Cobre, que permite sua adaptação a diferentes formatos e exigências estruturais. Isso facilita sua instalação e armazenamento, especialmente em projetos de expansão do transporte elétrico, onde a logística desempenha um papel estratégico.
Sustentabilidade e impacto ambiental
De um modo geral, o transporte público elétrico representa uma alternativa viável para a redução das emissões de gases poluentes. Diferentemente de ônibus movidos a diesel, os sistemas que utilizam Cobre na transmissão de energia não geram emissões diretas de CO₂, contribuindo para a melhoria da qualidade do ar e para o cumprimento de metas ambientais estabelecidas por cidades e governos.
Entretanto, além de seu impacto positivo para a redução de emissões, o Cobre é um material amplamente reciclável, podendo ser reutilizado diversas vezes sem perder suas propriedades essenciais. Essa característica reduz a necessidade de extração de novas matérias-primas, contribuindo para a preservação de recursos naturais e para a diminuição da pegada ambiental dos projetos de infraestrutura.
Comparado a outros metais, o Cobre também possui maior vida útil, o que prolonga a durabilidade das redes elétricas de transporte e reduz a geração de resíduos industriais. Em sistemas que exigem confiabilidade e continuidade operacional, essa longevidade se traduz em benefícios tanto para o meio ambiente quanto para a economia do setor de transportes.
Novas aplicações e o futuro do Cobre no transporte público
O avanço da eletrificação no setor de transportes abre novas oportunidades para o uso do Cobre. Além de sua aplicação tradicional na transmissão de energia, o material pode desempenhar um papel inovador em outras áreas da mobilidade urbana. Uma possibilidade ainda pouco explorada é o uso de superfícies de Cobre em ônibus, metrôs e trens, aproveitando suas propriedades antimicrobianas para reduzir a proliferação de bactérias e vírus em locais de grande circulação.
Estudos indicam que o Cobre pode eliminar até 99,9% dos microrganismos em poucas horas, tornando-se um aliado para a higiene do transporte público. Sua aplicação, em balaústres, corrimãos e guichês, poderia aumentar a segurança sanitária dos passageiros, especialmente em períodos de surtos virais.
O futuro do Cobre no transporte público também está diretamente ligado ao crescimento de projetos de infraestrutura sustentável. Programas como “SP nos Trilhos”, que prevê a expansão da malha ferroviária em São Paulo, indicam uma demanda crescente por materiais que combinem eficiência energética e resistência. O VLT da Baixada Santista, que recentemente recebeu perfis de Cobre para sua rede elétrica, é um exemplo de como o material segue sendo fundamental para o desenvolvimento do transporte urbano.

Além dos sistemas ferroviários, o Cobre desempenha um impacto estratégico na evolução dos ônibus elétricos, sendo essencial em conectores, cabos e sensores. Com o avanço da mobilidade elétrica, a necessidade de materiais de alta condutividade tende a crescer, reforçando a relevância deste metal na transição para um transporte mais limpo e eficiente.
Assim, o fortalecimento de políticas públicas e projetos de eletrificação da mobilidade urbana será determinante para impulsionar essa transformação. À medida que o transporte evolui, o Cobre seguirá como um elemento essencial para garantir que essa mudança ocorra de maneira eficiente, sustentável e acessível para a população.