Clóvis de Souza fez do contraturno um império das flores
Por Guilherme Renso
Debaixo do travesseiro do menino que sonhava com um futuro melhor e morava em cima de uma floricultura com a mãe, repousava, apenas esperando a hora dele fazer e acontecer, um mar de rosas, ou melhor, de flores de todos os tipos. Acrescente ao fazer e acontecer o crescimento profissional e, por fim, com um trabalho incessante, chega-se à maior loja online daquele segmento do Brasil, também conhecida como Giuliana Flores.
Falando sobre o tempo de espera para fazer e acontecer, ele terminou em 1980, quando Clóvis Souza tinha dez anos e sua mãe, Rita, pediu que a dona daquela floricultura empregasse-o no contraturno. “Morávamos na Quarta Parada. A minha mãe trabalhava e não gostava que eu ficasse na rua, então a dona da floricultura topou dar aquela oportunidade. No início eu molhava as flores, raspava as rosas e varria o chão”, relembra o empresário que atuou com a chinesa por sete anos.
No meio daquele caminho, aos 15 de idade, Clóvis já sabia fazer diversos tipos de arranjos e o fascínio aumentava gradativamente, na medida em que as pessoas elogiavam e compravam algo preparado por ele. Aos 17, já profissional, o filho mais velho da dona Rita, irmão do Jeferson e da Michele, começou a andar com as próprias pernas por meio de freelancers em outras floriculturas.
Com o negócio encaminhado, uma Variante ano 72 e um bom salário, faltava-lhe um sócio. Clóvis foi buscá-lo ainda naquele dia, mas sem sucesso. Entrava em cena outra figura feminina importantíssima nessa história: Cléo, mãe de Giuliana, sua então namorada. Ao chegar visivelmente chateado à residência da amada, Cléo quis saber o motivo daquela tristeza.
“Eu contei toda a história. Falei que não tinha a ambição de montar uma floricultura, mas havia aparecido uma senhora oportunidade. Para a minha surpresa, naquele momento ela propôs ser a minha sócia e colocar a Giuliana nessa jornada, também levando em conta a indisponibilidade de tempo da Cleo. Claro que eu também entraria com a parte financeira, mais o trabalho. E assim fechamos. Quando o contador perguntou qual seria o nome da empresa, eu pensei e respondi. Achava um nome diferente, bonito. Nasceu ali Giuliana Flores, em 1990”, detalha.
A sociedade entre eles durou seis anos e resultou na famosa e inesquecível loja na Avenida Goiás, perto da Câmara Municipal, além da matriz. O casal não estava mais junto e o empresário caminhava para o altar com outra parceira. Nesse sentido, não achava certo continuar sendo sócio da ex-sogra, tanto que propôs que ela comprasse a parte dele, mas Cleo se recusou, reconhecendo que aquele sonho era de Clóvis. O pagamento foi feito em dez vezes e Clóvis guarda até hoje, com carinho, as promissórias.
Pioneirismo da internet
Chegando ao início do ano 2000, o empresário relembra os inúmeros catálogos distribuídos. “Quando eu fui para internet, há vinte anos, vi que ali era o lugar do futuro, mas que não poderia abrir mão do off-line. Tanto que em 2002 fiz uma parceria com o Bradesco. Uma vez eu vi na fatura do cartão um flyer com propaganda e eu falei para a minha secretária que eu queria estar ali dentro no dia das mães. E ela conseguiu. O sucesso foi tanto que nós acabamos fazendo também para o dia dos namorados. Foi aí que eu pensei que, se o Bradesco havia acreditado na minha marca, nós tínhamos capacidade para ir muito mais além”, revela.
Voltando para o contexto da internet, hoje a Giuliana Flores chega a todos os estados do Brasil, além de outros países do mundo, como Japão, Itália e Estados Unidos. Clóvis Souza deve, dentro de pouquíssimo tempo, abrir um marketplace e espera vender esse ano mais de um milhão de arranjos. A loja física da Giuliana Flores, aquela que começou no exato instante em que ele segurava uma escada, hoje tem 560 m² e atualmente a Giuliana Flores emprega 190 colaboradores. Em 2019 o setor de flores movimentou aproximadamente R$ 8,5 bilhões.