Para mulheres que desejam ser mães e têm doenças reumáticas autoimunes, é compreensível que haja preocupações e incertezas. No entanto, a maioria pode ter uma gravidez saudável e dar à luz um bebê forte.
Com o avanço da medicina e o desenvolvimento de terapias eficazes, muitas mulheres com doenças reumáticas podem ter seus sintomas controlados, ou seja, manter a doença em remissão durante a gravidez. Além disso, os reumatologistas podem ajudá-las a planejar e gerenciar, junto ao obstetra, uma gravidez bem-sucedida.
A comunicadora Dayane Ferreira, 35 anos, é um exemplo inspirador de uma mulher com artrite reumatoide, há 13 anos, que realizou seu sonho de ser mãe. Ela esperou pela remissão da doença antes de tentar engravidar e teve o acompanhamento de uma reumatologista durante todo o processo. Dayane relata que, mesmo enfrentando alguns desafios, como a necessidade de suspender certos medicamentos e lidar com dores durante a gestação, a alegria de ter seu filho Ravi saudável no colo superou todas as dificuldades. “É o coração batendo fora do peito, como dizem.”
A pesquisadora e reumatologista Dra. Danieli Andrade, Profa. Livre Docente da Universidade de São Paulo (USP) e responsável pelo ambulatório e laboratório de SAF (síndrome do anticorpo antifosfolipídeo) no Hospital das Clínicas da USP, observa que a medicina ainda não possui todo o conhecimento científico necessário em relação à maternidade, devido à nobreza e à complexidade que envolvem a vida da mãe e do bebê. No entanto, sempre prevalece a ética no tratamento da mãe e do feto.
A médica, que também é membro da comissão científica da Sociedade Paulista de Reumatologia, lembra que quando começou a trabalhar na área, há 20 anos, o conhecimento científico sobre o assunto era limitado e havia poucas chances de uma paciente reumática imunomediada engravidar. “Hoje em dia, as contraindicações são exceção e muitas vezes é apenas uma questão de momento”, reforça a reumatologista.
É fundamental ressaltar que o otimismo prevalece na gestação para mulheres com doenças reumáticas, sendo importantes as avaliações médicas e o planejamento cuidadoso. Porém, segundo Dra.Danieli Andrade, existem algumas situações em que a gravidez pode trazer riscos à mulher e ao bebê, como em casos de doença valva grave (relacionada ao coração) ou comprometimento grave nos vasos do pulmão. Por isso, é crucial que cada caso seja analisado individualmente por todos os médicos que acompanham a paciente.
Controle – Para que uma gestação seja possível em pacientes com doenças autoimunes, é essencial que a doença esteja controlada, em remissão. Embora algumas gestações, como em pacientes com artrite reumatoide estável (AR), possam ter uma evolução melhor do que outras, como o lúpus ou a síndrome do anticorpo antifosfolipídeo (SAF), a gestação sempre será desafiadora, por conta da possível piora dos sintomas pelo excesso de hormônios na gravidez.
Felizmente, existem medicamentos que podem ser usados sem prejudicar o feto. “A cloroquina é um exemplo, já que possui diversos efeitos benéficos no controle do sistema autoimune e pode ser usada em substituição a medicamentos que a mulher usava antes da gestação”, explica a Dra. Danieli.
Alguns medicamentos que não devem ser usados ao engravidar incluem Ciclofosfamida, Micofenolato de Mofetila, Leflunomida, Metotrexato. Inclusive, preferencialmente, devem ser retirados entre 3 a 6 meses antes da confirmação da gravidez. Mas tudo isso precisa ser conversado com o médico.
Bebê à vista – A comunicadora Dayane Ferreira, diretora do Instituto Eluar, compartilha que esperou a remissão da artrite reumatoide para sua primeira tentativa. “Fiquei surpresa ao descobrir que estava grávida, já que achava que teria que passar por tratamentos de fertilização.”
A gravidez foi desafiadora para Dayane, especialmente na reta final, quando enfrentou problemas para caminhar, sentar e dormir. Mesmo antecipando uma semana, Ravi nasceu de parto normal, pesando 3,2 kg e medindo 48 cm, sem complicações.
Com artrite reumatoide há 13 anos, a mamãe do Ravi precisou se adaptar a sua limitação e dores nas mãos para conseguir cuidar do filho, trocá-lo, alimentá-lo, entre outras atividades. Agora, prestes a completar 2 meses, eles já têm uma rotina adaptada à nova realidade.
Assim como a história de Dayane e seu filho, Ravi, muitas mulheres com doenças reumáticas autoimunes também terão essa dádiva de celebrar o Dia das Mães, é o que desejam com muita esperança, a Dra. Danieli Andrade, toda a equipe da Sociedade Paulista de Reumatologia e a mamãe Dayane Ferreira: “Não desistam, pois a doença não pode ser maior do que o seu sonho. Um suporte médico e multidisciplinar adequado pode te ajudar a realizá-lo!”