Intenção da octogenária Antônia Maria é de frequentar o CHL pelo menos uma hora por dia para exercitar leitura Foto: Daniel Tossato/PMETRP

“Trabalhei grande parte da minha vida na roça e não conseguir ler. Hoje, aos 82 anos, quero fazer da leitura um hábito e é por isso que estou vindo ao CHL (Centro Histórico e Literário) Ricardo Nardelli quase todos os dias”, disse a aposentada Antônia Maria de Souza, enquanto virava mais uma página do livro “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna.

Nem a leve garoa que caia na manhã desta quinta-feira (26) a impediu de caminhar até o prédio para manter o ritmo de leitura. Sozinha na mesa, Antônia parecia mergulhar na história contada no livro, como se fizesse parte dos moradores que vivem em Taperoá, cidade em que se passa o conto de Suassuna.

“Eu sempre gostei de ler e até queria ser professora quando era criança, mas meu pai me colocou para trabalhar muito cedo. Tive que desistir de pegar no giz para cortar lenha e aprender a ser uma carvoeira”, disse Antônia. “Minha vida também daria um bom livro, um romance”, brincou.

A vontade de ler, mesmo depois da aposentadoria, surgiu quando Antônia participava das atividades do CRI (Centro de Referência ao Idoso) de Ribeirão Pires. Em contato com outros frequentadores, a aposentada participou de cursos de ginástica, de dança, de costura e até mesmo de aulas de como mexer em smartphones.

“Estou sempre buscando alguma coisa para fazer e participo das atividades do CRI desde o começo. Foi lá que comecei a pensar em ler mais, buscar mais alguma coisa para ocupar a mente. É sempre bom”, explicou Antônia.

A ideia da octogenária é de ficar pelo menos uma hora por dia no CHL, para que possa desfrutar das leituras que contém ali. Influenciada pela Flirp (Feira Literária de Ribeirão Pires) deste ano, que homenageou o escritor Ariano Suassuna, Antônia se prepara para começar a lei “A Pedra e o Reino”, mas somente depois que terminar “O Auto da Compadecida”.

“Esse contato com a leitura é como se fosse um retorno, uma busca ao passado. Estudei até a terceira série (atual terceiro ano do ensino fundamental) e tive que trabalhar. Não quero dizer que estou correndo atrás de um tempo perdido, mas sim que buscando uma vontade que ficou para trás”, relatou Antônia