Daniel Contro fala dos desafios da quarentena na melhor escola da região
Conhecida por ser uma escola polo do Grande ABC, o Liceu Jardim está superando com excelência os obstáculos impostos pela quarentena. Para falar sobre os investimentos feitos neste período e dos desafios que vêm pela frente com a retomada das aulas presenciais, nós conversamos com Daniel Contro, o diretor presidente da instituição educacional. Confira na íntegra a conversa.
Quais as medidas tomadas pelo Liceu Jardim para manter o ritmo de estudos e a excelência, tão aclamada em nossa região, na transmissão do conhecimento?
Diversas medidas se fizeram necessárias. Mesmo tendo uma boa estrutura tecnológica, passar a produzir subitamente milhares de aulas remotas e simultâneas, foi um desafio colossal. Adquirimos novas plataformas, equipamentos tecnológicos, ambientação de dezenas espaços de gravação, treinamento de professores, buscando atender a demanda e especificidade de cada faixa etária e suas áreas de estudo. A escola ganhou ares de um PROJAC do ensino.
Simultaneamente, precisamos criar vários canais de comunicação, escuta ativa e suporte pedagógico, através de tutoriais e instruções quase que diariamente aos alunos, professores e familiares. Nossos professores, titulares e adjuntos construíram uma ágil rede de colaboração entre si, visando garantir aulas de qualidade a todos os níveis.
Fizemos reuniões on-line constantes com professores, alunos líderes de classe e mesmo com as famílias, procurando dar transparência a todas as ações e criar uma atmosfera de segurança na comunidade escolar.
Como vocês avaliam essa paralisação?
Há vários aspectos para se considerar. Para as crianças menores, da Educação Infantil e anos iniciais do Fundamental, a interrupção foi mais desafiadora. Menos por implicações de conteúdo do que por reflexos sociais e afetivos. Este grupo ainda vivenciava o período de adaptação e sofreu com a ruptura de vínculos. Para todos, porém, os aspectos afetivos relacionais de convívio são de maior relevo.
Aos alunos maiores, posto que já mais integrados à escola e seus professores, com maior nível da autonomia, foi menos desafiador se adaptarem às aulas e deveres on-line. Contudo, toda crise representa, em si mesmo o útero de crescimento e disrupções importantes. Se há alguma face positiva em todo este cenário funesto, certamente foi o salto tecnológico que todas as escolas se viram obrigada a incorporar em suas práticas metodológicas. Em nenhum nível será diminuída a riqueza do convívio social e do papel mediador do professor, todavia, novas práticas metodológicas, com novas e maiores tecnologias, serão inexoráveis.
Quais medidas serão implantadas no retorno presencial das aulas?
Já temos construído um protocolo de retorno, com 4 eixos norteadores, que incluem medidas e procedimentos de higiene, capazes de garantir o máximo de segurança a todos as pessoas do ambiente escolar. Será essencial, de igual modo, apoio emocional aos profissionais da escola, aos alunos e mesmo seus familiares. Voltar às aulas após a quarentena, não será o mesmo que voltar de férias… Teremos menos preocupação com o currículo e os conteúdos e muito mais foco e atenção com o bem estar das pessoas. Será necessário um olhar muito atento e sensível para nível de ansiedade de cada criança.
No âmbito do currículo, não é necessário maior angústia. Supondo que ocorra o regresso em meados de julho, o período de aulas remotas terá correspondido a menos de 30% do ano letivo. Os alunos que receberam aulas on-line com regularidade e qualidade, terão uma desafazem discreta e possível de ser ressarcida.
Muitas famílias estão tirando os filhos da educação infantil. Como avalia?
Claro que o orçamento de todos foi impactado. Todavia, a família precisar ponderar muito sobre a importância desta fase. Educação infantil é o período mais exuberante do desenvolvimento da criança. Sua inserção na escola, um ambiente social maior e estruturado, é primordial para estímulo das competências cognitivas e sociais. A criança deixa a micro sociedade da família para uma relação mais ampla de convívio. Mesmo que, por este período, esteja sendo virtual, o fato da criança rever o rosto da professora, ouvir a voz dos coleguinhas, garante uma sensação importantíssima de pertencimento.
A ruptura de vínculos afetivos nessa faixa etária é extremamente nociva à criança. Equivocadamente, a cultura escolar brasileira não reconhece a educação infantil como a etapa mais rica de desenvolvimento da criança. Predomina a ideia arcaica de “parque infantil” e não espaço de desenvolvimento. Veja como uma criança evolui, por exemplo, na fala, quando passa a frequentar a escola. O mesmo se dá em todas as dimensões do desenvolvimento. A defasagem afetiva ou cognitiva deixará sequelas por todo resto de vida.